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MONITORAMENTO COMUNITÁRIO XACRIABÁ DA COVID-19

O Monitoramento Comunitário - Terra Indígena Xakriabá (MC-TIX) iniciou-se a partir da urgência de proteção do povo Xakriabá e seus anciões contra a disseminação da Covid-19. A mobilização inicial foi instituída em março de 2020, durante o Conselho Interno de Caciques e Lideranças, no qual optou-se pela instalação de bloqueios nas entradas do território e restrição de acesso a não-moradores da TIX. A partir da necessidade de gestão do território e controle de possíveis infecções, implementou-se o sistema de Monitoramento Comunitário, apoiado por uma rede intercultural entre os Xakriabá e pesquisadores da UFMG-IFNMG/UFPA/Univ. Sheffield. Seu objetivo principal foi produzir informações em auxílio ao serviço de saúde local na identificação, rastreamento e combate ágil à doença. Neste processo, a equipe de pesquisa interinstitucional apoiou a comunidade indígena Xakriabá a criar, colaborativamente, ferramentas para o enfrentamento à Covid-19. Com o passar do tempo e avanço da pandemia, a mobilização comunitária trouxe à tona a necessidade de se aprofundar na produção de informações e conhecimentos alinhavados com as ações de gestão comunitária do território que passam pelas práticas indígenas inerentes à saúde, educação e economia.

 

Essas questões passaram a ser trabalhadas em Grupos de Trabalho (GTs), abertos aos indígenas, que contaram com a participação de lideranças, agentes de saúde, professores, assim como jovens estudantes ou não. De forma estratégica, a equipe UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais - com apoio de parceiros do IFNMG - Instituto Federal de Educação Tecnológica do Norte de Minas Gerais -, dividiu os trabalhos nas seguintes temáticas: 1) Gestão do Território e Economia, 2) Educação e Saúde, e 3) Sistematização das Experiências do Monitoramento e Contra-cartografias, sendo este GT divido em três oficinas: Oficina de Sistematização das Experiências e Produção de Materiais; Oficina de Consulta ao Banco de Dados; e Oficina de Produção de Mapas. Tais GTs tiveram mais de 120 indígenas inscritos. Foi facultado aos participantes escolher acompanhar um ou mais grupos. A condução dos trabalhos foi realizada integralmente por vias remotas, em especial, via Google Meet e WhatsApp durante os meses de março a junho de 2021. Além desses grupos, a experiência do monitoramento levou à criação do GT Aplicativo centrado no desenvolvimento de um aplicativo que facilite registros em momentos futuros.

(Texto síntese do MC-TIX 2021 – produzido pela equipe colaborativa de pesquisadores indígenas e não indígenas da UFMG e IFNMG).

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Fotos de Edgar Kanaykõ Xakriabá

TESTEMUNHO PESSOAL

Sr. Hilário Corrêa liderança da aldeia Barreiro Preto, reunião remota, 23/10/2020).

“[...] quando se trata da questão da autonomia, ao mesmo tempo em que a barreira sanitária, o monitoramento em si, vai acontecendo, rotativamente, tem as reuniões periódicas de caciques e lideranças. Mesmo com menor volume de quantidade de pessoas ela não parou de acontecer. Justamente com essa preocupação antes, agora e depois. E a pandemia, em si, ela foi uma coisa que veio inesperadamente, claro né pra todos. Mas também serviu pra que a gente enquanto povo também começasse a retomar os nossos pensamentos da nossa autonomia. Esse monitoramento se fez necessário nesse momento, [mas] acabo aqui lembrando de muitos que já foram feitos há anos atrás quando as invasões dos latifúndios, posseiros, na época do maior enfrentamento da luta que aqui aconteceu. A gente sempre vinha falando nisso. Que muita coisa deveria ser retomada para a gente se resguardar melhor. E esse monitoramento, ele se fez necessário para a gente refletir bem sobre isso. Começando também pela nossa própria sobrevivência aqui no território. Lembrando que nós, como nossos parentes aí a fora, não estamos mais conseguindo viver da caça e da pesca como era antes, naturalmente. Nós trabalhamos muito com a lavoura, a agricultura e criações de animais, né? Mas isso não é o suficiente. [Temos pensado em] como gerenciar nosso território. Produzir um pouco mais, porque a população está crescendo, mas sem grandes degradações” (Sr. Hilário Corrêa, liderança da aldeia Barreiro Preto, reunião remota, 23/10/2020).

Fotos de Edgar Kanaykõ Xakriabá

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Fotos de Edgar Kanaykõ Xakriabá

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Terra Indígena Xakriabá

VISÃO GERAL 

A Terra Indígena Xakriabá está localizada no norte do estado de Minas Gerais, sudeste do Brasil, em especial, no município de São João das Missões. O nosso povo Xakriabá é identificado como pertencente ao Tronco linguístico Macro-Gê, família Gê, subdivisão Akwê. A identidade Xakriabá é caracterizada pela mistura de diferentes elementos culturais, em especial aqueles que designam as formas de resistência de nossa identidade. Dentre estes se destacam a pintura corporal, os traços da retomada Akwen presentes nos cantos e rituais tradicionais, a expressão da oralidade com marcas da melodia, a força da palavra e do diálogo, além das formas de auto-organização e estratégia política. A população Xakriabá é estimada em torno de 11.000 indígenas, vivendo em 35 aldeias, das quais duas estão em processo de retomada. Hoje ocupamos apenas um terço do nosso território tradicional, com área demarcada e homologada de 54 mil hectares. O objetivo das retomadas é ampliar o território, possibilitando assim que tenhamos acesso ao rio São Francisco, muito importante na nossa história. Embora vivamos nessa região do norte de Minas enfrentando o desafio da seca, temos uma forte relação com o território. A relação que temos com o território não é uma relação da terra como matéria, é uma relação ancestral do território como corpo e espírito (Texto de Célia Xakriabá, 2018).

CORREA, Célia Nunes (XAKRIABÁ, Célia). O barro, o genipapo e o giz no fazer epistemológico de autoria Xakriabá: reativação da memória por uma educação territorializada. 2018. 218 p. Dissertação (Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável) – Universidade de Brasília, Brasília, 2018.

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